Antes delegado aos bastidores do morar, agora o banheiro protagoniza uma nova forma de habitar, sendo transformado cada vez mais em local de pausa, autocuidado e conexão consigo mesmo. Exemplo desse novo olhar é o ambiente Natureza em Essência, criado pelos arquitetos Mariana Meneghisso e Alexandre Pasquotto para a CASACOR São Paulo 2025, onde cada detalhe une princípios de inovação, bem-estar e estética afetiva.
O espaço tem 27 m² e contempla sanitários, lavatórios, galeria com jardim e estar, conectando o que há de mais inovador em design funcional a materiais que despertam os sentidos. A partir dele, é possível entender o que está em voga quando o assunto é a evolução dos banheiros.
A importância do sensorial

Nos últimos anos, muito se fala sobre o ‘sensorial’, porém o que realmente é isso? A neuroarquiteta Mariana Meneghisso explica que a estética sensorial é uma abordagem que busca estimular os cinco sentidos para conceber experiências espaciais mais completas, imersivas e significativas.
“O sensorial é tudo aquilo que percebemos no espaço. São as texturas que convidam ao toque, os sons que nos acalmam, os aromas que perfumam e até a temperatura que agrada. E quando falamos de banheiro, implica em transformar aquela rotina cotidiana em uma microexperiência de autocuidado”, explica.
Ou seja, além do visual, importa o que se percebe ao estar no ambiente. Por isso, os projetos buscam ativar percepções físicas e sentimentais por meio das escolhas que compõem os espaços.
Os revestimentos como condutores
Com um infinito leque de opções, os revestimentos seguem um ciclo de reinvenção constante. Alexandre e Mariana acompanham as tendências e novidades, mas sobretudo, na realização dos projetos, procuram compreender o que se espera do ambiente em termos de textura, aconchego, durabilidade, impacto, sustentabilidade e sensações individuais. “Cada escolha deve refletir uma intenção e não uma moda passageira”, dizem.
No caso do banheiro, especialmente os que seguem a estética sensorial, os revestimentos assumem papel de destaque. “É o material que define a temperatura visual, textura tátil, acústica e até luminosidade. Por isso, buscamos superfícies que proporcionem um acolhimento imediato, com tons naturais e acabamento fosco”, expressa Alexandre Pasquotto.

Segundo os arquitetos, os revestimentos que imitam pedras naturais, como quartzitos e arenitos, estão em alta justamente por despertarem uma conexão direta com o orgânico e o atemporal. As cerâmicas com veios marcados ou em formatos grandes também ganham força por permitirem continuidade visual e menor quantidade de rejuntes, o que reitera a ideia de fluidez e sofisticação. “Com esse movimento, os polidos e brilhantes perderam espaço”, constata Mariana.
“A estética muito fria e artificial, com superfícies reflexivas, tem sido deixada de lado em banheiros que propõem mais acolhimento e introspecção. Estamos vivendo um momento em que o toque importa tanto quanto a aparência”, afirma o arquiteto, que reforça ainda que as cores neutras, variações de bege, areia, terracota e verde seco estão em evidência.
Também estão em alta as cubas sobrepostas com recortes embutidos que oferecem leveza visual e praticidade no uso. “A louça sanitária é um material durável, colorido e extremamente higiênico. Além disso, os novos modelos trazem linhas contemporâneas, com acessórios integrados, o que a torna ainda mais versátil”, comentam.

No campo das torneiras, os arquitetos destacam os monocomandos multifuncionais que integram, em um único equipamento, a oferta de água quente, filtrada, gelada e até com gás.

Outra aposta dos profissionais é o uso de uma chapa autoportante de resina, da Fórmica, com um centímetro de espessura. Desenvolvido especialmente para áreas molhadas, o material une leveza, sustentabilidade e praticidade de instalação.
“Essa tecnologia elimina a necessidade de integrar marcenaria e marmoraria, resultando em uma produção mais rápida e econômica. É um material com potencial imenso de aplicação, especialmente se pensarmos em reformas mais ágeis e sustentáveis”, reforça Alexandre.
Sustentabilidade em alta
Materiais sustentáveis também ganham protagonismo, como os laminados com certificação ecológica, revestimentos de bambu e cortiça, além de pastilhas de vidro reciclado. O ambiente Natureza em Essência ainda destaca o uso de painéis modulares, de rápida instalação, que reduzem desperdícios na obra. O mobiliário, por sua vez, valoriza o design brasileiro, feito por artistas e marceneiros locais, reforçando o desejo de cultura e exclusividade.
“Há uma intenção muito clara de valorizar o que é feito no Brasil, com materiais duráveis, de menor impacto ambiental e estética contemporânea. A brasilidade aparece não como temática folclórica, mas como design de alto nível, conectado à nossa identidade e ao planeta”, pontua Mariana.

As plantas naturais também se tornam aliadas do décor e da qualidade do ar com espécies como samambaias, orquídeas, lírios-da-paz e peperômias, que se adaptam bem à umidade. Elas trazem frescor e contribuem para uma atmosfera mais viva, o que é um conceito fundamental na biofilia, tendência que inspira projetos cada vez mais conectados à natureza.
Emoção e memória no projeto
Mais do que beleza e praticidade, os banheiros de hoje também são partes do lar que contam histórias. A presença de arte e design nacional, como visto no Natureza em Essência, ajuda a construir essa atmosfera singular. “As pessoas querem se reconhecer nos ambientes em que vivem e isso se dá também por meio dos detalhes afetivos, das memórias e de uma estética que emociona”, reflete Alexandre.

Para ambos, os banheiros do futuro já começaram a se desenhar, equilibrando a inovação tecnológica com um estilo sensível, mas sem abrir mão da funcionalidade tradicional.