A estética minimalista e contemplativa dos arranjos japoneses encontrou um espaço fértil nos lares brasileiros. Em meio a um cenário onde plantas ganharam protagonismo na decoração, a kokedama — técnica de cultivo que transforma raízes em esculturas vivas — passou a ocupar nichos, prateleiras e até a flutuar em cordões delicados dentro de casas contemporâneas.
De origem japonesa, o nome kokedama significa literalmente “bola de musgo”. A proposta é simples, mas impactante: envolver o torrão da planta em uma esfera de substrato e musgo, sem o uso de vasos, revelando uma estética orgânica que combina com espaços que buscam equilíbrio e conexão com a natureza. A técnica, que tem raízes no bonsai e na tradição do wabi-sabi (beleza da imperfeição), foi ressignificada por designers e paisagistas ao redor do mundo — e encontrou no Brasil solo fértil para florescer.
A delicadeza que conquista os interiores
No universo da decoração, a kokedama vem sendo valorizada por sua versatilidade. Pode ser posicionada sobre uma bandeja de cerâmica no aparador, suspensa por fios em um canto da sala ou mesmo combinada em grupos para criar um jardim suspenso. Sua presença confere leveza e um toque de sofisticação rústica que conversa tanto com estilos modernos quanto com propostas mais naturais ou afetivas.

Segundo Marina Malheiros, paisagista e professora de botânica ornamental, o sucesso da técnica no Brasil está ligado à relação emocional que temos com as plantas. “As pessoas buscam hoje formas de cultivar, cuidar e contemplar. A kokedama oferece isso com delicadeza, além de não exigir um grande espaço”, destaca. Marina também reforça que a técnica permite trabalhar com diversas espécies — desde samambaias e heras até mini orquídeas e suculentas adaptadas.
Como fazer kokedamas?
Criar sua própria kokedama em casa é mais simples do que parece, e essa é uma das razões para sua popularidade. O processo começa com a escolha da planta — preferencialmente uma espécie que aprecie umidade moderada e sombra parcial. A raiz é limpa com cuidado, e a terra que envolve o torrão é modelada com uma mistura específica de substrato, argila e matéria orgânica, até formar uma bola firme.
Em seguida, envolve-se essa esfera com musgo esfagno ou musgo verde, que ajuda a reter a umidade e dá o visual característico à peça. O musgo é fixado com fio de algodão, nylon ou até sisal, de modo que a estrutura fique segura, porém visualmente leve. A rega é feita por imersão: basta mergulhar a bola em um recipiente com água por alguns minutos, até que ela absorva o necessário.
“É um tipo de cuidado que envolve presença”, explica o botânico e paisagista Paulo Tripoloni. “Diferente de um vaso tradicional, que esconde o ciclo da planta, a kokedama expõe as raízes, a umidade, o crescimento — tudo isso promove um vínculo entre quem cuida e o que está sendo cuidado.” Paulo ainda recomenda observar a necessidade da planta quanto à luminosidade e não deixar o musgo secar completamente entre as regas.
Um toque de arte viva no cotidiano
Além de prática e charmosa, a kokedama carrega um significado poético. Seu formato esférico remete à completude, à ideia de mundo próprio, onde a vida acontece em silêncio e beleza. Em tempos de busca por desaceleração e reconexão com o essencial, essa arte floral funciona como um lembrete diário de que o natural pode (e deve) fazer parte da rotina.
Seja em um estúdio urbano ou em uma varanda com vista para o verde, incluir uma kokedama na decoração é abrir espaço para um tipo de beleza que não é estática: ela cresce, muda, respira com o ambiente. Mais do que um adorno, é uma escolha estética e afetiva — feita com as mãos, mas sentida no olhar.