Em meio às paisagens paradisíacas do litoral do Ceará, onde dunas douradas encontram o mar azul-turquesa, um elemento peculiar se destaca e desperta a curiosidade dos visitantes: a Árvore da Preguiça. Com sua forma inusitada, curvada pela força dos ventos, essa espécie nativa tornou-se um símbolo da resistência da natureza e um dos pontos turísticos mais fotografados da região de Preá.
Protegida pelo Parque Nacional de Jericoacoara e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), essa árvore não é apenas um cartão-postal, mas também um testemunho vivo das condições climáticas extremas e do ecossistema que compõe esse cenário tão especial.
Uma Obra de Arte Natural Esculpida pelo Vento
A Árvore da Preguiça não tem esse nome à toa. Seu tronco retorcido e inclinado sobre a areia remete à posição de um ser vivo relaxando à beira-mar. Mas sua aparência não é fruto do acaso, e sim da ação contínua dos ventos fortes da região, que moldaram sua estrutura ao longo do tempo.

“O crescimento incomum da planta é resultado da intensa influência dos ventos alíseos, que predominam nessa faixa do litoral cearense, fazendo com que a espécie se desenvolva de maneira inclinada”, explica Alexandre Gibau, bólogo da Universidade de Gotemburgo, na Suécia. Esse fenômeno ocorre porque as mudas que nascem na área são constantemente expostas à força do vento, o que direciona seu crescimento em uma posição horizontal, em vez da vertical tradicional.
Uma Espécie Adaptada ao Litoral
A árvore pertence à espécie Conocarpus erectus, conhecida popularmente como mangue-de-botão. Com origem na América do Norte, especialmente na Flórida, essa planta se espalhou por toda a costa brasileira e até mesmo por algumas regiões da África Ocidental. Sua capacidade de resistir às adversidades climáticas a torna um elemento essencial no ecossistema litorâneo.
“A Conocarpus erectus é uma espécie que se adapta muito bem a solos arenosos e salinos, comum em áreas de manguezais e faixas costeiras. Suas folhas grossas e volumosas ajudam na retenção de umidade, enquanto suas raízes altas são uma estratégia para sobreviver às mudanças de maré”, destaca Luiz Fernando Cardoso, paisagista do Estúdio La Folha.
História e Memória Local
Antes mesmo de Preá se tornar um destino turístico renomado, a região onde hoje se encontra a Árvore da Preguiça era atravessada por um riacho que conectava a costa do Preá à Praia do Mangue Seco. Relatos de moradores antigos sugerem que, no passado, o local era profundo o suficiente para receber embarcações e pequenas canoas, o que indica mudanças significativas na paisagem ao longo do tempo.

Com a diminuição do volume de água, a vegetação local se transformou e algumas espécies, como o mangue-de-botão, se consolidaram na paisagem. “Esse espaço já foi um riacho ativo, com maior presença de água e biodiversidade distinta. A evolução do ecossistema fez com que essas espécies se adaptassem, criando essa cena tão peculiar que hoje atrai visitantes de todo o mundo”, ressalta Cardoso.
Importância Ecológica e Preservação
Mais do que um ponto turístico, a Árvore da Preguiça representa a força e a resiliência da natureza. Seu habitat, assim como outros manguezais e ecossistemas costeiros, desempenha um papel fundamental no equilíbrio ambiental.
“Esses ambientes funcionam como verdadeiros berçários naturais para diversas espécies marinhas, além de serem essenciais para conter a erosão das praias”, explica Gibau. Isso significa que a conservação da árvore e de toda a região ao seu redor é fundamental para manter a biodiversidade local e garantir que futuras gerações possam contemplar essa maravilha natural.
Como Visitar a Árvore da Preguiça
Para aqueles que desejam conhecer esse espetáculo natural de perto, a Árvore da Preguiça está localizada entre a Vila de Jericoacoara e a Praia do Preá, fazendo parte de roteiros turísticos imperdíveis na região. Empresas locais, como a Sertões Experience, oferecem passeios off-road em veículos UTV, proporcionando uma experiência aventureira por algumas das paisagens mais impressionantes do litoral cearense.
O acesso é feito por trilhas de areia, tornando o trajeto uma aventura à parte. Ao visitar o local, é essencial respeitar as normas de conservação e evitar qualquer interferência na vegetação ou no solo.