Manter o ar-condicionado ligado com a janela aberta pode parecer algo inofensivo, mas na prática essa atitude compromete seriamente a eficiência do aparelho, resulta em gastos excessivos na conta de luz e pode até reduzir a vida útil do equipamento. Além do impacto financeiro, essa prática também pode prejudicar a qualidade do ar interno, sobrecarregar os filtros e até aumentar a emissão de gases prejudiciais ao meio ambiente.
Segundo o engenheiro mecânico especializado em climatização Rodrigo Sampaio, essa prática pode ser comparada a tentar encher um balde furado. “O ar frio gerado pelo aparelho escapa para fora, enquanto o ar quente entra sem controle, fazendo com que o sistema trabalhe de forma contínua sem atingir o resfriamento adequado”, explica. Isso significa que, ao invés de um ambiente fresco e confortável, o resultado será um espaço com temperatura irregular e um aparelho funcionando no limite.
Mas quais são exatamente os problemas de manter o ar-condicionado ligado com a janela aberta? A seguir, entenda as principais consequências desse erro e como evitar prejuízos.
O ambiente não resfria adequadamente
O funcionamento do ar-condicionado se baseia na troca de calor, onde o aparelho retira o calor do ambiente interno e o transfere para fora. No entanto, ao deixar portas e janelas abertas, esse calor volta a entrar constantemente, criando um ciclo interminável e impedindo que a temperatura desejada seja alcançada.

Para a arquiteta e especialista em conforto térmico Juliana Ribeiro, esse é um erro comum que compromete toda a climatização. “Muitas pessoas reclamam que o ar-condicionado não está gelando o suficiente, mas não percebem que o problema está na vedação do ambiente. A troca constante de ar faz com que o aparelho opere sem parar, sem conseguir atingir o resfriamento necessário”, destaca.
Isso faz com que, mesmo trabalhando continuamente, o aparelho não consiga manter o ambiente refrigerado. Além disso, o ar frio produzido se dispersa para fora, tornando o resfriamento praticamente ineficaz.
Aumento significativo na conta de luz
Ao funcionar em potência máxima sem atingir o resfriamento desejado, o ar-condicionado consome mais energia elétrica do que o necessário, resultando em um aumento considerável na conta de luz. O compressor, responsável pelo ciclo de refrigeração, trabalha continuamente em velocidades altas para compensar a entrada de calor externo, o que eleva os gastos energéticos.
“O grande problema é que o compressor não consegue reduzir sua potência, pois o ar quente não para de entrar. Isso gera um consumo contínuo de energia elétrica e pode aumentar em até 30% o custo na conta de luz”, alerta o engenheiro Rodrigo Sampaio.
Além do desperdício financeiro, esse consumo excessivo também tem impactos ambientais, pois sobrecarrega a matriz energética e contribui para emissões de carbono.
Maior desgaste e risco de falha do equipamento
Outro fator crítico é o impacto na durabilidade do ar-condicionado. Quando um ambiente não está vedado corretamente, o sistema precisa trabalhar no limite para tentar manter a temperatura programada. Esse esforço contínuo sobrecarrega peças essenciais, como o compressor e o sistema de refrigeração, aumentando o risco de superaquecimento e falhas prematuras.

“Um ar-condicionado submetido a esse tipo de esforço constante pode ter sua vida útil reduzida pela metade”, explica Juliana Ribeiro. “O desgaste prematuro gera custos extras com manutenção e, em muitos casos, a necessidade de troca do aparelho antes do tempo.”
Isso significa que, além de pagar mais na conta de luz, o usuário também pode precisar gastar mais com consertos ou até mesmo substituir o equipamento mais cedo do que o esperado.
Acúmulo de poeira e piora na qualidade do ar
Com a janela aberta, impurezas externas entram livremente no ambiente e acabam sendo sugadas pelo sistema de climatização. O resultado? O filtro do ar-condicionado fica sobrecarregado com poeira, poluentes e partículas, comprometendo sua eficiência e aumentando os riscos para a saúde dos ocupantes.

“Ambientes mal vedados permitem a entrada de ácaros, mofo e outros agentes alergênicos. Com um filtro sujo, esses poluentes circulam pelo espaço, agravando problemas respiratórios, como asma e rinite”, alerta Rodrigo Sampaio. Por isso, manter o ambiente fechado e realizar limpezas periódicas no filtro são cuidados essenciais para preservar a qualidade do ar.
Impactos ambientais do desperdício energético
Além dos problemas diretos para o usuário, manter o ar-condicionado ligado com a janela aberta também contribui para impactos negativos no meio ambiente. Embora os aparelhos modernos utilizem gases refrigerantes menos agressivos, o consumo excessivo de energia elétrica resulta em maior emissão de gases do efeito estufa.
“Cada kWh desperdiçado significa mais emissões de CO₂ na atmosfera, o que agrava o aquecimento global. Pequenos hábitos, como vedar o ambiente corretamente, fazem toda a diferença para reduzir esse impacto”, ressalta Juliana Ribeiro.
Mitos sobre a prática e por que não confiar neles
Algumas pessoas acreditam que abrir a janela pode ajudar na circulação do ar e até melhorar a eficiência do ar-condicionado, mas essa ideia está longe da realidade. Outro mito comum é que a potência do aparelho pode compensar essa troca de ar, mas nem mesmo os modelos mais robustos conseguem resfriar um espaço onde há uma entrada constante de calor externo.
“A ideia de que o ar fresco que entra pode ajudar no resfriamento é equivocada. Na maioria das vezes, esse ar externo é mais quente e úmido, o que faz com que o sistema precise trabalhar ainda mais para tentar compensar essa interferência”, explica Rodrigo Sampaio.