Uma árvore frutífera rara e única foi descoberta por pesquisadores em uma área de conservação da Mata Atlântica, em Maricá, região metropolitana do Rio de Janeiro. Esse exemplar único, Siphoneugena carolynae, que pertence à família das jabuticabeiras, foi encontrado no Monumento Natural Municipal da Pedra de Itaocaia por Thiago Fernandes e João Marcelo Braga, cientistas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
O local da descoberta, um antigo reduto de biodiversidade explorado pelo naturalista Charles Darwin em 1832, abriga diversas espécies fascinantes. No entanto, Darwin não chegou a registrar essa árvore durante sua visita.
A árvore Siphoneugena carolynae, que pode alcançar até sete metros de altura, marca um avanço significativo na compreensão da flora da Mata Atlântica, conforme explica Thiago Fernandes: “Essa descoberta é um passo adiante para o conhecimento pleno da flora da Mata Atlântica, que ainda abriga muitas espécies desconhecidas para a ciência. Além disso, demonstra a importância das áreas protegidas para a conservação dessa e de outras espécies raras e com distribuição restrita”.
Os resultados da pesquisa foram publicados em julho deste ano na revista científica Brittonia, do Jardim Botânico de Nova York. Os cientistas acompanharam o desenvolvimento reprodutivo da árvore entre 2018 e 2023, identificando que esta é a 13ª espécie do gênero conhecida até hoje, enquanto as demais estão distribuídas em locais como Porto Rico e norte da Argentina.
Marcelo da Costa Souza, coordenador do Jardim Botânico do Rio e professor de Thiago Fernandes na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), orientou a pesquisa. Ele relembra: “Ele colheu a planta e me enviou uma foto no dia seguinte, já suspeitando que fosse uma espécie nova de um grupo de gênero ao qual me dediquei por muito tempo. Quando eu vi, identifiquei que não tem outra espécie desse gênero com essas características, apesar da família mirtácea ser muito rica em espécie”.
A descoberta dessa nova espécie ressalta a necessidade de proteção das áreas naturais e o aprofundamento do conhecimento sobre a biodiversidade. Souza pontua: “Tem plantas que foram coletadas há muito tempo e estão depositadas em uma coleção científica de plantas, mas falta especialista para completar o estudo e fazer o reconhecimento delas”.
Essa nova descoberta não apenas aumenta o nosso conhecimento sobre a biodiversidade da Mata Atlântica, mas também alerta para a necessidade urgente de preservar o habitat onde a árvore foi encontrada. Marcelo Souza sublinha a importância dessa proteção: “Essa espécie só tem registro naquele local, ou seja, a gente tem que proteger porque ela pode ser extinta. Imagina se começam uma construção de uma fábrica, com duto de óleo, gás, e tira aquela vegetação”.
Os cientistas deram o nome de Siphoneugena carolynae em homenagem à pesquisadora Carolyn E. B. Proença, da Universidade de Brasília, uma especialista sênior em mirtáceas, em reconhecimento a suas contribuições para a taxonomia e biologia reprodutiva das espécies dessa família. Carolyn E. B. Proença também participou das discussões sobre a nova espécie, tornando a descoberta um esforço colaborativo que reflete a importância da pesquisa científica e da proteção ambiental para a preservação da biodiversidade global.