Resumo
A arquiteta Alessandra García destaca que o lar influencia diretamente nossas emoções e deve ser um espaço de segurança, equilíbrio e conexão com a natureza.
A decoração ideal não segue tendências, mas reflete quem somos; cores, texturas e memórias pessoais trazem harmonia e bem-estar.
A luz natural é essencial para o corpo e a mente, regulando o sono e a disposição; espelhos e cores claras ajudam a ampliá-la.
O design biofílico, citado por Jana Söderlund, propõe integrar elementos naturais e tons terrosos para reduzir o estresse e gerar conforto.
Materiais naturais, ventilação cruzada e energia circulante tornam a casa mais leve, viva e alinhada à nossa essência emocional.
Nem sempre a casa dos sonhos está ao nosso alcance. Mas o espaço que já é nosso — mesmo que simples ou temporário — pode se tornar um lugar de renovação, afeto e presença. É o que defende a arquiteta e designer de interiores Alessandra García, fundadora do Orsetto Interiors, com sede em Londres. Para ela, o ambiente doméstico molda não apenas nossas rotinas, mas também nosso humor, energia e até mesmo nossa saúde física e mental.
ℹ️ Nota de caráter informativo:
Este conteúdo tem finalidade jornalística e educativa. As observações sobre bem-estar e saúde emocional refletem estudos e opiniões de profissionais das áreas de arquitetura e design, e não substituem orientação médica, psicológica ou terapêutica. Em caso de desconforto físico ou emocional, procure um profissional especializado.
Em entrevista à BBC News Mundo, Alessandra aponta que a maneira como vivemos dentro de casa tem impacto direto sobre nosso bem-estar emocional. “Viemos das cavernas, precisamos nos sentir seguros onde moramos e manter alguma conexão com a natureza”, afirma. Segundo a arquiteta, espaços escuros, abafados e desorganizados podem intensificar sensações como cansaço, tristeza ou ansiedade. Por outro lado, ambientes bem planejados e em sintonia com os hábitos de quem mora neles podem despertar acolhimento, inspiração e até entusiasmo.
A casa como extensão de quem você é
Ao contrário do que muitos imaginam, uma decoração verdadeiramente transformadora não depende de tendências ou regras fixas, mas sim da escuta atenta sobre o que faz cada pessoa se sentir bem. “Sempre pergunto aos meus clientes: do que você gosta, de verdade?”, compartilha García.
A arquiteta cita, por exemplo, a sua própria relação com a cor roxa, associada à Semana Santa em sua terra natal, El Salvador. “Embora o roxo seja bonito, eu o associo à morte de Jesus, então, emocionalmente, não me transmite leveza”, relata. Para ela, esse tipo de memória afetiva molda a percepção sobre os espaços — e deve ser respeitado.
Em vez de decorar por modismo, Alessandra recomenda criar ambientes com cores, formas e texturas que ativem sensações positivas. Essa escolha, feita com consciência, dá origem a casas mais verdadeiras, onde cada canto reflete histórias, preferências e afetos pessoais.
A luz natural como aliada da vitalidade
“Para mim, a luz natural é o fator número 1”, afirma a arquiteta, categórica. E não se trata apenas de estética: estudos mostram que a exposição à luz solar regula o ciclo biológico (ou ritmo circadiano), interferindo no sono, na disposição e até na produção de hormônios como a melatonina.

Se o imóvel não tem grandes janelas ou aberturas generosas, vale apostar em soluções que ampliem a luminosidade indireta. Espelhos, superfícies brilhantes, cores claras e tecidos leves são ótimos aliados para refletir a luz existente e suavizar a atmosfera. “Mesmo espaços escuros podem ter valor: basta adaptá-los a funções mais introspectivas, como leitura ou relaxamento”, propõe.
Traga a natureza para dentro
Segundo a pesquisadora australiana Jana Söderlund, autora do livro The Emergence of Biophilic Design, nossa ligação com a natureza é ancestral e instintiva. “Fomos programados evolutivamente para reagir à natureza. Às vezes, só precisamos de um lembrete”, disse à BBC Worklife.
Esse conceito está por trás do chamado design biofílico, que busca integrar elementos naturais — como madeira, plantas, pedras, luz solar, cores terrosas e texturas orgânicas — ao cotidiano urbano. Para Söderlund, mesmo nuances sutis de verde, azul ou marrom já são capazes de induzir calma e reduzir o estresse. “Olhe pela janela e imagine como você pode trazer as cores de fora para dentro”, orienta.
García reforça que, mesmo que você não tenha tempo ou habilidade para cuidar de plantas naturais, vale mais ter uma planta artificial do que nenhuma. A presença verde, ainda que simbólica, ativa memórias sensoriais ligadas à tranquilidade e à vida.
O poder dos materiais naturais
Além do visual, a textura também comunica com nossos sentidos. “Quando você toca em madeira ou linho, por exemplo, há uma resposta corporal imediata”, explica García. A arquiteta defende o uso de materiais naturais como madeira, lã, palha, algodão cru ou barro, que remetem ao refúgio primitivo da humanidade e favorecem um estado de relaxamento.

Estudos citados pela BBC apontam que o contato visual ou tátil com superfícies de madeira reduz o estresse mais do que a presença de plantas, e ainda pode ajudar a controlar a pressão arterial. Em contraste, materiais frios como metal ou vidro costumam provocar distanciamento e menor sensação de acolhimento.
Esse retorno ao essencial também se manifesta na escolha de tecidos, móveis e revestimentos que priorizam o toque agradável, o conforto térmico e a simplicidade. “Mesmo sem saber, nosso corpo reconhece a diferença entre o que é natural e o que não é”, comenta a arquiteta
A importância de deixar a energia circular
Outro aspecto fundamental para o bem-estar dentro de casa é a ventilação cruzada. De acordo com Alessandra García, permitir que o ar entre por uma janela e circule até outra abertura oposta transforma a atmosfera dos ambientes — e não só no sentido físico. “A energia precisa se renovar. Senão, ela se estanca”, afirma.
Para casas pequenas, a derrubada de paredes internas pode ser uma solução para criar fluidez visual, melhorar a iluminação e permitir que o ar se movimente. Quando não for possível reformar, abrir portas e manter passagens desobstruídas já ajuda a ativar o frescor dos espaços. “Somos compostos de água, mas também de energia”, conclui.





