A iluminação é um dos elementos mais poderosos e frequentemente subestimados no design de interiores. Mais do que simplesmente clarear o ambiente, ela tem o papel de revelar texturas, intensificar cores e criar atmosferas emocionais. Um projeto bem pensado valoriza cada detalhe, conduz o olhar e define o humor do espaço. Já uma iluminação mal planejada pode comprometer até o projeto arquitetônico mais elaborado.
Ao longo dos anos trabalhando com interiores residenciais, percebi que a luz ideal não é a mais forte nem a mais fraca. É aquela que dialoga com a arquitetura, o mobiliário e a rotina de quem habita o espaço. A seguir, a arquiteta Bruna Blanco compartilha três diretrizes essenciais que costuma aplicar em seus projetos para alcançar uma iluminação equilibrada, funcional e envolvente.
1. Aposte em camadas de luz
É natural que o primeiro impulso seja pensar na luz geral, vinda do teto, o tradicional ponto central ou embutido. Ele é indispensável, mas sozinho costuma deixar o ambiente plano e sem profundidade. A solução está em criar camadas de luz, mesclando arandelas, luminárias de piso, luminárias de mesa e até balizadores embutidos na parede. Essa sobreposição permite modular o clima conforme o momento, desde uma leitura tranquila até um jantar intimista.
Em seus projetos, a arquiteta costuma usar balizadores próximos ao piso em corredores ou áreas de circulação, pois oferecem uma luz suave e funcional durante a noite. Já luminárias de piso com design assinado podem se tornar esculturas luminosas, unindo função e estética. A escolha de peças de qualidade é essencial: uma boa luminária é, ao mesmo tempo, fonte de luz e elemento de identidade no ambiente.
2. Entenda a temperatura de cor e mantenha a coerência visual
A temperatura de cor define o tom da luz emitida, do amarelado (quente) ao azulado (frio), e influencia diretamente na percepção de conforto. A harmonia de um ambiente depende da coerência entre essas tonalidades, por isso evite misturar luzes frias e quentes em um mesmo espaço.
- 2700K: Luz amarelada e acolhedora. Ideal para quartos e salas, cria uma sensação de relaxamento.
- 3000K: Tom mais neutro, equilibrando aconchego e funcionalidade. Versátil para residências e áreas comerciais leves.
Além da cor, observe também o nível de lúmens, que indica a intensidade da luz. Um bom projeto considera a função do ambiente e o comportamento da luz sobre as superfícies, seja refletindo em um piso claro ou sendo absorvida por uma parede de madeira. Pequenos ajustes de intensidade podem transformar completamente a atmosfera.
3. Posicione a luz conforme o uso do espaço
Cada ponto de luz precisa ter propósito. Antes de instalar, pergunte-se: “O que desejo destacar ou acolher aqui?”
Analise o layout e identifique as áreas de permanência e as de passagem. Evite luz direta sobre sofás, camas ou mesas de jantar; o ideal é utilizar luz indireta, difusa ou rebatida para criar conforto visual.
Por outro lado, valorize elementos arquitetônicos ou decorativos com direcionamento intencional. Uma parede texturizada, uma obra de arte ou um revestimento natural ganham vida sob o ângulo certo. A luz bem posicionada é como uma moldura invisível que guia o olhar e desperta sensações.
Dica extra — O poder do IRC (Índice de Reprodução de Cor)
O IRC revela o quanto uma lâmpada reproduz fielmente as cores dos objetos. Em residências, o ideal é optar por lâmpadas com IRC acima de 80, especialmente em áreas sociais e de convivência, onde a percepção das cores e materiais é essencial. Essa escolha garante que o mármore, a madeira ou o tecido sejam vistos com sua tonalidade verdadeira, como foram concebidos no projeto.
A iluminação é, acima de tudo, uma ferramenta de emoção.
Ela transforma superfícies em experiências, traduz intenções em atmosferas e faz com que um espaço seja mais do que bonito: seja sentido.
Em cada projeto que assino, busco que a luz conte uma história, uma história que muda conforme o momento do dia, mas que sempre ressalta o melhor de quem vive ali.





